domingo, 20 de julho de 2014

Falatório precário

Enquanto observava aquelas linhas retas de sentimentos e pensamentos tortos, tudo começava a fazer sentido dentro dela. Não se tratava de tristeza, não se tratava de ciúmes ou desses sentimentos meros que a adolescência toma conta. Era algo tão leve que já não poderia doer. Triturar seu pensar. Era tranquilidade quase imaculada que invadia sua mente. E ela ali, lendo todas aquelas linhas cobertas de desabafo que não incomoda, embora, pelo contrário, a atrai mesmo se distraindo aos poucos. É floral. Lento, gradativo, mas ao fim das gotinhas o resultado é garantido. Cada organismo responde de um jeito, mas no final, tudo é absorvido e digerido.
A normalidade está na onde reside a tranquilidade. Afinal, o que é estar, ser normal?
Naqueles momentos que se seguiram Lind podia sentir aquela normalidade distante de outrem. Mas uma normalidade tão tranquila naquilo que não tem jeito. O que não tem remédio, remediado está'' ouvira certa vez. Ecoou em seus tímpanos, e se alojou dentro de alguma terminação nervosa. Libertou-se.
A normalidade vestida com a tranquilidade de dar ao outro exatamente o que recebe e sentir-se nem mais nem menos, apenas igual. Quase beira a conformidade. Quase se assemelha a desistência. Mas é só tranquilidade que a idade reserva. Deixa correr o tempo. Um dia será. Tudo ou nada. Talvez que paira inconsciente nos cérebros escandalosos.
É a normalidade de querer pra si sem pedir, sem cobrar, sem ser o óbvio. Óbvio é a incapacidade de ver além. Guardaria numa caixa, zelaria com afinco, pensava ela enquanto observava aquelas linhas. A ansiedade do novo já havia cessado. O frisson já havia acabado.
Restara nela a certeza positiva do 'real, agora'
Quando perguntada se sentirá vontade de ser tal qual, ela respondeu de pronto 'ser não,-ter' tão somente tê-la.
É claro que a tranquilidade estável de uma mente importante assusta. A 'normalidade estável' assusta quando faz presença no lugar da normalidade para com, com o outro. Mas menina, pensava Lind, não seja egoísta. Na minha tranquilidade eu consigo observar sua vontade de 'ter' distante de 'ser'
Normalidade indiferente é a mais avessa. Aversa. Talvez essa se aproxime rasteira, tal qual o sentir se encaminha para longe. Talvez a certeza do seu papel faça dela uma fiel ouvinte, leitora, quiçá narradora dessas comédias românticas. Dessas histórias de amores não superados, dor de cotovelo e saudade. O trágico cômico romantismo. E só talvez ela só queira isso, observar distinta daquele meio, degustando a tranquilidade de não se afetar. Estar.
Então as linhas não chegaram mais. Se aquietou. Ocupou. Deixou. Se foi. Quem é que sabe?
E o gosto da tranquilidade veio úmida como dia de inverno misturando-se ao amargor da certeza.
chegara a aquela conclusão macilenta de que querer para si vai além das banalidades tão pulsantes naquele ser. Já não cabia desespero. 'remói a solidão, remói. Quando não te bastar mais, cospe e bebe do meu ser'
A tranquilidade de querer o bem estar do outro antes de querer ter para si.
Mas nos minutos distante ela sabia a imagem que sua mente buscaria. Encontraria.
Porque normal mesmo, sentia ela, é o que ela quisesse que fosse. E no caos alheio, ser a paz de quem quer dar amor e precisa receber.

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