sábado, 15 de agosto de 2015


Querido Caio...
os dias tem sido de calor e as noites de frio por aqui. Confesso que nunca gostei de nenhuma instabilidade que se passasse dentro e fora de mim, embora eu saiba que a de dentro não me faz ter que carregar casaco numa bolsa que eu não gosto de usar quando saio pra trabalhar.
Recentemente li uma história que mexeu comigo. Se tratava de uma menina de vinte e seis anos que se deparou com todas as incertezas e medos que a muito ela tentava ignorar.
Penso que quando uma pessoa invade a privacidade de outra ela entra num labirinto de possibilidades. E essa garota o fez. Invadiu. Leu então que sua amiga próxima dizia dela para outros, leu as opiniões deturpadas da amiga com relação a família da invasora. Naquele texto confesso de inverdades a amiga dizia que a moçoila era uma suicida. Disse também que ameaçará se matar na cidade onde o pai morreu. E num ato falho errou a cidade em que o pai da moçoila morreu. Pensou ela '-prova maior de falta de atenção, não há'
Então a amiga seguia falando sobre penar, pagamentos que ela supostamente havia feito para a invasora, citava tantos exageros e inverdades que a moçoila invasora não pode suportar. Passou a ser a 'louca parasita' da história. A vilã que com afinco esforçou-se para enlouquecer a amiga. No fim de tudo houve uma falta de ar cortada pelo estopim da porta da sala de estar rompendo os gritos na cabeça da moçoila.
Ainda mais tarde li que a menina decidirá ir embora. Sumiu. Talvez tenha ido se matar em Minas Gerais, quem é que sabe não é mesmo Caio.
Talvez tenha corrido pra tão longe que nunca mais conseguiu forças para voltar. Ou foi viajar. Foi a praia e deixou escorrer no mar aquilo que não é bom.
Percebi então querido amigo que não adianta a gente tentar ser honesto com o outro. Não adianta a gente esperar reciprocidade, porque algumas pessoas simplesmente são incapazes de reconhecer. Incapazes de serem sinceros até com relação a elas mesmas, imagina com relação ao outro. E ser 'ser humano' não é justificativa pra quase nada, mas justifica muita coisa. De resto... A noite caiu, estou com um pouco de frio agora, eu emagreci alguns kg e sinto falta das nossas tardes na sacada.
Com carinho, eu.
Foi aos vinte e um anos que me deparei com um diagnóstico fechado por três psiquiatras de que era/sou eu uma pessoa com transtorno limítrofe. Tardei a acreditar. Tardei ainda mais a levar a sério e seguir tratamentos com afinco. Fui até o mais fundo de mim e voltei. Fiquei a beira de, tantas vezes que perdi a soma. Não que o problema fosse de fato aceitar uma 'doença',não. Eu sempre lidei bem com isso de aceitar. Mas me cansava aquela história longa de que eu teria de levar uma vida assim ou assado. De que teria de ter intervenção medicamentosa daquele presente momento até o dia em que fosse parar a sete palmos da superfície de um terreno qualquer. Me cansei inúmeras vezes de ter que lembrar dos horários dos remédios, das idas ao psicólogo falar para ele coisas que as vezes nem me chegavam. Um silêncio a dois. Passei por todas as fazer que podia e principalmente que não podia. Tive recaídas brutais, mas não me instalei no drama, como dizia aquele moço. Fui até o fundo e ressurgi sendo um novo velho ser com um transtorno. Foi então que percebi cinco anos depois que embora eu ainda seja taxada de louca pelo preconceito ignorante dos que se julgam espertos, suicida pelos completos desinformados, que eu não preciso aceitar esses adjetivos sujos de tragédia e dor. Você passa uma vida mascarando seus sentimentos e sensações e quando não consegue se enquadrar, é taxado. Eu diria que ser border me da uma outra visão de mundo sim, mas que eu prefiro enxergar entre linhas do que me perder naquilo que nem sei quem sou. Tomo remédio todos os dias pela manhã e se não o faço por quatro ou mais dias, começo a sentir o caos que é não controlar minhas emoções. Tenho um psiquiatra incrível. Ainda prefiro evitar muitas pessoas e aprendi a não sucumbir a exageros. Sou dada a exageros. Então eu só posso dizer que de 'médico e ''louco''' todo mundo tem um pouco. E eu, eu sou só mais uma na multidão seguindo pra onde eu bem entender.

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Nostalgia, só isso!

Por um momento eu quis voltar a viver tudo que vivera a um tempo atrás.
Quis tanto dizer que te amo, mas tanto que chegou a doer... mas eu não o fiz, não devo
e não farei, pelo menos não como os romanticos costumam.
É tão perturbador pensar que algo ainda está presente aqui. Já comecei e terminei com alguns,
ja quis amar tanto, ja dei o primeiro passo para um novo começar tantas vezes e ainda assim você está aqui, ainda hoje eu tenho vontade de retomar, reviver o passado.
Minto! não é vontade de reviver o passado, é a vontade, implicita vontade de construir o novo,
ser algo partindo do zero. A diferença cruscial é que se trata de algo novo, com uma pessoa ja "velha" com o peso de uma certa história... Temos uma bagagem e não é fácil, simples, simplesmente abandona-la em qualquer rodovíaria, esquina.
O amor é tão grandiozamente desagradável por vezes que só sabe deixar dor e lagrimas nos pobre/ricos seres que amam. blá, que festival grandioso de asneiras num escrito só.

- Burra! burra! tens tudo pra caminhar sem olhar para trás e continua olhando.
- como pode deixar as emoções tomarem conta dessa forma, mesmo sabendo que não vai dar em nada, além de posts melancólicos e pseudo apaixonados em porcarias de blogs e flogs, aquelas merdas que vc usa para expor o minimo do que vc sente?
- Eu não sei, eu só o fiz. sim tens toda razão.

Easy to please ainda faz pensar.

terça-feira, 21 de julho de 2015

cartas para além.

Tem sido difícil, as vezes parece que não houve progresso e que nem haverá.
As noites aqui são passadas em claro, pena que não contigo do meu lado. As vezes meu mundo cai, eu caio junto, me perco entre o tudo e o nada, o talvez, a certeza. Ouvi dizer que certeza é para quem não ama de verdade. Será? eu tenho tanta certeza quando se trata de 'nós', certeza de sentimentos, vontades, desejos.
Ultimamente eu me sinto tão sozinha, tão perdida, tão incrivelmente perdida, é estranho me sinto fragilizada. Não deveria estar monologando nada aqui.
É estranho não saber por onde ir, sabe, pra onde. E eu to te falando isso porque eu gosto de conversar qualquer coisa contigo, eu me sinto a vontade quase sempre. Ta certo que muita coisa eu guardo, mas com o tempo a gente aprende a expor de melhor maneira, sei que contigo deve ser mais ou menos assim também.
Todas as coisas que aconteceram continuarão ecoando dentro de mim, ao menos por um tempo, tudo me deixou muito descrente, perturbada.Tudo que não é bom nem pra mim, nem pra você.
Por mais que eu faça, eu sempre me sinto perdida, inútil, incapaz. Isso ocorro devido a minha total falta de auto-estima, eu sei, mas saber que você tem feito o que quer e precisa, é bom. Deixando a sessão "divã". Esses dias tem feito muito calor por aqui, sinto falta de reclamar e você me assoprar o rosto num gesto simples. Sinto falta do seu calor. Eu tenho tentado agir e não pensar muito, focando o que pode ser melhor não só para mim mas para nós, por mais que me doa certas atitudes minhas. Eu sei que muitas vezes eu provoco a minha própria dor. O ser humano tende a se enganar demais seguindo um caminho falho crendo que é o melhor para ele, o mais fácil ou o mais sintético.
Então brigue menos. Escute mais e assimile.
Eu vou tentar fazer isso por aqui também.
Seu cheiro de fumaça paira nos cômodos do meu espaço, principalmente no quarto, e enquanto eu fumava passivamente as palavras de Caio consolavam minha alma
Nesses dias tenho pensado muito em muitas coisas, percebi o quão somos fortes e não sabemos e o quanto eu preciso de alguns goles de vinho barato e sessões de terapia.
Conclui que ser algum é perfeito e isso me deu uma sensação tola de não estar de todo só, somos todos uma coleção de erros enquanto tentamos incansavelmente acertar. Não é tempo de permanecer na inercia, e eu vejo que você tem tentado ir além, e isso me deixa orgulhosa.
Depois daqueles dias contigo eu percebi que você é um ser de luz, mas perdido como eu. vamos nos encontrar, nos achar e você encontrará seu caminho.
Meu quarto roxo ta cheio de amarelo agora. Porque em cada mínimo detalhe dentro e fora de mim lá está você.
Eu não acredito em alma gêmea, para sempre, metade que encontra outra metade. Acredito no inteiro, na amplitude de um ser se dispondo para outro. Acredito que somos assim, tu e eu, somatória, descoberta, amplificadas, principalmente quando juntas. Sua essência soma com a minha e eu aprendo contigo. Para sempre não existe, mas existe o 'muito'. Eu quero muito estar por muito tempo ao seu lado. Namorada, amiga, cumplice. Qualquer um, ou todos, não importa bem os fatores, desde que o resultado final seja estar perto de você.
Você faz falta nos pequenos detalhes da minha sala monocromática, na imensidão de uma cidade com 1 milhão de habitantes onde, sem você, parece vazia, sem sentido, sem cor.
Perdoa os gritos e discussões, as falhas, mas, eu nunca disse que seria perfeita tão pouco te cobrei o mesmo, gosto mesmo é da imperfeição, é ela que dá cor e sabor.
Amo você pelo o que é, pelo o que somos juntas. Amo todos os carinhos q são só seus.
Bom estudo, sorte com trabalho.
Um abraço de minutos corridos. Uma paz que excede o entendimento.
Saudade. Espero vê-la aqui ou aí ou lá. Não importa.
Um zilhão de sorrisos pra você. Minha felicidade constante.

segunda-feira, 20 de julho de 2015

domingo, 19 de julho de 2015

em memória


Penso que diante da morte a voz se cala e o corpo fala por si derramando a salubridade ou camuflando tudo o que a mente insiste em dizer.
Estaria mentindo se soubesse qual a sua idade, se vê-la finalmente descansar me soa tristeza profunda e imediata. Embora seja minha vó, tenho pra mim que agora ela está melhor, haja vista que uma mãe que perde o seu filho morre em vida e perece na existência do ser. Não quero com isso compartilhar a minha dor ou amor, sei que ela sabia do amor por conta das minhas atitudes e sei que nesse momento não há mais dor ou um existir vago. Ontem foi meu pai, aos quarenta anos no auge da sua vida e intelecto intacto. Foi deixando um rastro de dor que jamais ousei parafrasear pelo simples fato de não haver palavras que se aproximem do sentimento que fixou em mim. Ontem minha vó juntou-se a seu filho caçula para enfim ama-lo de perto. Seja na imensidão do nada ou nos arredores do ''paraíso''
Em memória.

São vinte três horas e cinqüenta e cinco minutos. Me ocorre e corre por mim a falta que a morte traz em vida, a dor que vem nos momentos mais inoportunos como se não tivesse respeito, sei lá quem, pelo nosso momento atual, sem perceber que tudo pode piorar dentro e fora. É quase meia noite e nesse momento morre a vida de alguns e renasce n'outros a dor da saudade que não vai cessar. Agora na chegada de outro dia ainda na escuridão me ocorre também a dor dela. Encontram-se quem sabe os três em algum canto da morte Sentados conversando no refrigério de suas almas enquanto nós aqui lamentamos sentadas no amargor salgado da nossa tristeza.
Eu não sei como demonstrar empatia. É um dos males da humanidade, Mas eu sei da dor que dói em você. Eu sei do amargo na sua alma. Do cheiro doloroso que exala dos seus poros. Eu sei da ferida visível no invisível do seu ser que não cura com merthiolate. Deixamos ir fragmentos de nossas almas, mas resta em você todas aquelas outras coisas que te fazem alguém grande e forte. Alguém que eu e eles amamos.

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Suco de Manga

 Começos de tarde me causam enjoo, mas enjoo mesmo, desses que você sente arder a gastrite que talvez nem existe e a boca saliva uma inundação indesejada. Como se já não bastasse a salivação que eu não me agrado, o sol que pegava ardente os ponteiros do relógio naquela exata hora das uma e quarenta e três da tarde, me veio o cidadão.
Tinha um ar conhecido naquele rosto de trinta jamais visto por mim. Encontrava-se num nervoso salubre e num rasgão agarrou minha mão como se me conhecesse a vidas. Assustei. Contava duas e dez e ele num suor asqueroso me falava do seu nervosismo incomum. Ansiedade. Não que eu seja dessas tais que odeiam pessoas mas me causou incômodo, os dedos gelados entre os meus naturalmente amenos. Aflição. Ofereci um calmante, não poderia ter feito diferente, num olhar esquivo e numa preocupação pouco real, ofereci a única coisa que dispunha naquele momento além das minhas mãos e ouvidos. -Um calmante bem fraco, caracterizei. Recusou. Naquela altura eu já havia bloqueado o incômodo a aflição e tudo mais que pudesse me chegar com aquela presença tão invasiva e desesperada. Penar. Observei as três horas chegando rapidamente, o que me aliviara a pressão tanto nos ouvidos quanto na mente, então ele num descompromisso me perguntou se eu tinha namorado. -Não tenho namorado, talvez nunca tivera de fato. -Tenho namorada, cidadão. Logo ouvi ‘ mulher que fica com mulher é porque está, é, foi frustrada amorosamente por um homem’. Foi aí que me chegaram aqueles sentimentos cujo quais eu amassei e engoli  a seco.  Você destrói um obstáculo todos os dias, você aprende a viver numa sociedade machista, falocêntrica que te subi-julga te oferecendo condições inferiores as dos homens, pum, escuta na boca de um desses tais de trinta que você é uma frustrada sexual e amorosamente, porém, com uma orelha linda e pequenina. –Sim, elogiou minhas orelhas de ‘’mulher frustrada’’. –Não é meu caso, concluí numa indiferença quase muda. Cansaço. Então num começo de tarde qualquer dentro de um voo qualquer eu me deparo com um tal, com o sol, com os ponteiros de um relógio, os conceitos e opiniões que me causam ainda mais salivação e tudo que eu desejava era chegar naquele destino tantas vezes pisado.
E quanto ao cidadão, engoli com suco de manga gelado e na privada tempos depois despejei  realizada.

sábado, 9 de maio de 2015

baixio

'A luz era amarela, tinha gosto de intimidade. 
De pés descalços caminhou até o centro daquele cenário que era, em suma, sua vida de amor e tragédia. Cumprimento e despedida. De amor e despedidas fazem-se as vivencias do ser, do seu ser, do nosso. De pés magros e bem delineados caminhou no palco de mim . Trazia na voz o desassossego da vida e o conforto da identificação. Apressei-me em passos falsos ao meu encontro. Sentado naquela cadeira de ferro e fogo ensinou a mim e aos demais o que é amor e amar, paixão e apaixonar-se. Sofri do abandono dos que me identificavam, sofri da lembrança jaz perdida numa memória de caos e fármacos. De mão magra e dedos longínquos fez o café e toucou-me a alma fragilizada numa história que era por coincidência ou não, nossa.
Farfalhou em meus tímpanos aquela luta para sobreviver. Sub viver. Tocou meus olhos com suas palavras e num rompante de emoção encontrei nos dele a beleza do ‘marejar ’ inundou m’alma de emoções contidas, nossas almas. Escorreu pelo meu corpo lembranças de já não ser e estar, dos que já não são e nunca mais estarão. Afundei-me enfim, largada, frouxa, flácida mas não flutuante, no interior de mim e me afoguei naquela melodia que me fora presenteada enquanto jovem e inconsequente me drogava nos sarais da vida, aquele do zé, na esquina daquela casa que era quase minha.
Novamente aqueles pés, eu que já tinha em mim a certeza de que só as mãos são merecedoras de olhares, fixei-me nos pés descalços que caminharam a vida, as vidas, a minha vida. Do Oiapoque Ao Chui.
Andamos, compartilhamos, nos afastamos e nos ferimos. Amei sem conta e deixei escorrer por entre os lábios as palavras que mais tarde me tirariam da sua presença. Nossa presença .Das nossas descobertas. Me fiz muda diante de toda aquela história e não saberia dizer nesse momento o que era nosso, o que era meu e o que era tão somente dele. Daquele ser de faca e flor. Daquela grandeza diminuta nos seus 1.70 m. Escorri identificação naquela vida que sem muitas opções vivemos e com permissão dada por nós, escolhemos.
Então Volta, fica. E ainda que eu vá, te carrego nos olhos e na alma.

sábado, 18 de abril de 2015

os doces das 18 hr



Enquanto enterrava o cachorro morto da vizinha amiga o sol se punha lento e laranja, feito os do litoral que ofuscavam a visão nos meus olhos cansados. Observei o mato baixo ao meu redor, as falhas no solo que não eram para jogar bolas de gude, a terra era vermelha, manchava nossas mãos e pés pequeninos. Não sentia tristeza, na verdade havia uma indiferença muda que diante dela, e da morte, fingia se importar. Sobrava o respeito por ambos, a vizinha e a morte do cachorro quase feto. Naquela altura já com dez anos, tinha consciência do que era morrer.
Não me doía a cena.
Ele apareceu, magro e negro. Não tirou o capacete da cabeça que deixava revelado somente os olhos de uma cor qualquer que não me fiz interessada. Chamou-me Não respeitando o ritual fúnebre. Havia na voz um tom de prazer. Era sexuado.
Aproximei-me. Nos aproximamos. Enquanto olhando nos olhos do nada e reparando na sua moto verde musgo não percebi correr nele o sangue do gozo. Veio então a pergunta inocente sobre o nome da rua. E enquanto abria a boca ele abria o botão seguido do zíper da calça. Expox seu pau. Não reconheci. Tão pouco sabia o que era. Percebi então que me causou nojo somente. Tocou nele enquanto me olhava. Bloqueei como um cego. Dei passos para trás como quem por instinto ou intuição, percebe o perigo. Gritei a vizinha. Corri. Corremos. Escorreu nele o líquido da busca asquerosa da inocência ainda não perdida. Talvez os ossos ainda estejam lá. Caixa de papelão apodrece rápido mas ossos não.
Recolhi. Naquele quintal meu observei sentada no balanço que meu pai havia feito a grama bem cortada o cheiro de roupa limpa no varal próximo. Pra lá e pra cá. Meu pai cruzou o portão, trouxe balas. Sempre nos trazia balas.

sexta-feira, 17 de abril de 2015

parte primeira da hora

A menina está cansada. O sentimento vai sendo saturado, cozido na banha da estupidez.
Há um exagero dentro de mim que poucas vezes consigo controlar. Há um elevado nível de emoções que não cabem nas minhas mãos, não me cabem. Transbordam.

Invade-me sem pedir permissão o gosto do gozo não quisto que causa repulsa de viver. Não sobram copos ou corpos. Me dói o descontrole que a Gabapentina me faz escorrer pelos olhos e tenta livrar meu ser. Uma palavra basta. Eu poderia ter aceitado. Preferi a destruição, mas não por escolha própria. A mente escolhe e o corpo não controla. Não é sangue de renovação que escorre feito molho pronto sobre a massa posta na mesa, não é alívio. Nada alivia. Minha mente aumenta em proporções abruptas aquilo que me chega e fere. Eu firo.

Quando os ânimos ficavam exaltados eu logo tratava de me retirar. Retirava-me do local, do corpo, da consciência. Apontou-me uma arma nas fuças, rendeu-se a loucura do seu ser. Vagabunda me nomeou. Não havia trepado com ninguém ainda os dezessete mal haviam me encontrado. Observei a boca da ignorância que me acusava num desespero que não podia ser contido por psicotrópicos. Herdei o gen do descontrole e da dor dupla. Irracionais.
Escarrou na minha cara o asco nada disfarçado de anos a fio. Havia nojo naquelas palavras. Fruto de uma foda ruim tive de reparar a juventude indo embora. Foi-se dele, foi-se dela, chegando até mim num passo lento. Mastiguei com gosto o desgosto mais parecia parafina que não desgruda do céu da boca e sufoca aos poucos a paciência do ato, engoli. Repulsava o estômago, sentia subir pela espinha o arrepio da podridão. Eu o desfrutei como quem experimenta pó pela primeira vez. Não sabia se ia ou se ficava enquanto a mente na sua esperteza burra criava mecanismos de defesa que me faziam sair da realidade. Fugi. De mim. 

já é noite

Essencial seria poder expor o que não existe em mim, mas reside em algum lugar do meu ser. Como um mudo, porém não surdo me porto diante de um todo. Todos. Não posso falar, mas me é inevitável não ouvir. As palavras farfalham dentro dos tímpanos meus fazendo arder na pele tantas vezes machucada como o olho do peixe descartado após a glória de sua captura.
A indiferença vai rasgando a garganta em tom de Dó, talvez provoque um câncer silencioso;  aquele que todos têm e só os de má sorte desenvolvem. Intempestiva numa paz falsa, fabricada por álcool e nicotina. Acendo mais um cigarro e enquanto a fumaça macia, nada muda. Não existem sons para além de. Não existe voz que retire da goela o que não sei definir.
Já passa da meia noite, companhias fingem interagir cada uma no seu mundo particular, digital e digitalizado, o que importa. Dividindo o mesmo metro quadrado eu consigo perceber a mediocridade que toma conta de mim e desse ambiente que se faz gigante diante dos corpos mudos. Já passa do badalar do relógio que não existe naquela parede branca tantas vezes ignorada enquanto as almas se distanciam feito passos e ponto de partida.
Parágrafo terceiro do exagero. Dos medos que só envolvem a perda daquilo que nunca me foi. O travessão aumenta o amor e diminui minha capacidade de ser. Eleva-se a dor quase cicatrizada de uma alma que não sabe te deixar perto tão pouco se distância no egoísmo parvo. O vento adentra pela sacada e chacoalha as persianas já gastas pela idade, passa das três da manhã. Sinto frio.

Parágrafo quarto dessa distância que fere nossos sentimentos enquanto intactos nossos corpos perpetuam uma beleza juvenil que vai passar num estalar de dedos e antes que possamos perceber seremos pó nas linhas dos rostos alheios.

As máquinas nos distanciam, essa animosidade que paira não se desfaz como nuvens no vento, há nesses dias rachaduras dentro dos nossos cérebros mas nossas máquinas permanecem intactas. A grosseria gratuita e mútua dos seres que se amam e não se dão faz arder no ar a fumaça que na noite fria conforta o que ainda nem chegamos a ser. A luz que ofusca nos olhos meus a capacidade de perceber o seu sentir me dói, talvez seja esse o maior medo, a falta do sentir enquanto a miopia se faz mais branda com o passar dos anos.

Giraria mundos até que eu conseguisse estar diante daquele outro ser como se deve e como merecedor que ele é. Mudariam as estações até que eu pudesse te explicar que amar vai além das palavras que eu tola não digo. Romperiam- se anos até que meu ser em putrefação pudesse se recompor para diante desse seu riso eu conseguisse me mostrar sem medo ou reservas. E diante da nudez minha você poderia enxergar-me pálida e pura, tal qual as folhas que eu ainda não ousei colorir..

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Pouco as vezes parece uma eternidade.

simplesmente foram tão usados, que não é mais possível colorir com eles. Nada tem cor. Fiquei três dias pensando no que eu poderia fazer para melhorar alguma coisa, para enxergar o fungo e tirá-lo do pão,mas não consegui chegar a lugar algum. O fungo ainda permanece. Você deve se perguntar o que são esse bando de palavras jogadas em "folha de papel", o porque dos mesmos clichês, eu não sei explicar o porque,ou talvez eu saiba, mas ultimamente eu não tenho conseguido falar muito,escrever muito, andar muito, querer muito. Só sinto, sinto muito. Tentei costurar barrigas por ai,tetei decorar com flores, mas essas se secaram tão rapidamente. Me pergunto o porque dessa casa estar tão suja e com aspecto de abandono. Então eu acendo o cigarro,aquele que eu não fumo, dou uma tragada e penso por mais ou menos trinta séculos. Meus últimos dias passam como um filme diante dos meus olhos. tão pouco tenho conseguido compreender, ajudar, fazer. Tão pouco consigo acreditar e querer. Meus pulsos estão amarrados, minha boca amordaçada, eu não consigo gritar, não consigo e nem posso me soltar, meu interior grita tão alto que eu começo a ensurdecer. Toda essa meticulosidade que acaba fazendo mal. Estou em pedaços, estão conseguindo tirar minha barrigada, minhas tripas, sinto que estão tão próximo do coração. tão fragmentado, cheio de veias entupidas, faltando pedaços, mas ainda assim batendo. Estão chegando no meu coração, então logo darão o golpe final, eu finalmente descansarei, sem dor, sem sofrimento, sem enxergar tudo aquilo que me faz chorar. Enxergando só a coloração do céu me contemplando com cor plena.

Já é noite e eu ainda não sei muito bem a que venho e porque estou.
Sentada de frente para o jardim mal iluminado, posso perceber coisas acontecendo ao meu redor, lá fora os carros correm loucos em busca do aconchego, o conforto, o fim do dia, confrontando a morte. A pressa está presente em quase todas as situações, minha cabeça gira 360º tão fácil que nem sei dizer. Sinto coisas que não sei nomear nem tão pouco expor, compreender. Decisões importantes a serem tomadas o tempo todo, me pressionando, fazendo de mim hospedeira de uma impaciência única. Meus olhos contemplam a vida que corre louca, mas meu corpo não consegue acompanhar o piquê. Cadê.

terça-feira, 10 de março de 2015

página de número 25

Parágrafo primeiro da inquietação quase muda do ser...
Diante daqueles dias de chuva ela via sua vida correndo ligeira para longe, sempre e mais. Com pesar ela pensava no que teria que fazer para que algo que parecia impossível se dissipasse em tudo e ao mesmo tempo em nada. Não havia compreensão, nada além de uma completa solidão a dois, cheia de animosidade e impaciência. Doía nela todo aquele ser sendo e estando, sabendo ela que não era para ser. Certas coisas simplesmente não são pra ser, aceitar e compreender isso faz parte de um processo árduo e macilento de conhecimento de si e do outro.
talvez seja tanta dor ou choque ou algo que ainda não foi nomeado. Não sei o que pensar, sentir. Talvez eu não sinta nada. Talvez haja um muro dentro de mim que bloqueia até minha capacidade tão quista de pensar. O que são os dias quando há só escuridão dentro te cegando para além de você. Caminho no escuro de mim e não sei onde encontro a lâmpada mais próxima. Meu corpo desperta dolorido todas as manhãs, aquele nó na garganta não se desfaz tal qual uma drágea entalada na goela, enquanto o tempo passa ela desce e vai me rasgando a garganta. Incomoda, machuca e não há como se acostumar com ela, tomo água, me alimento quando dá mas nada tira de mim esse nó. Ele não volta quando forço sair de mim o que fiz entrar, ele não vai de vez quando como um faminto, me alimento de sentimento e sensações, sejam elas embutidas ou não. Me ocorre o oco do ser todos dias e não há o que preencha. Fiz dos meus dias os mais fugazes possível. Fiz da minha existência a mais invisível possível na tentativa tola de me esquecer enquanto sou diariamente esquecida. Fugi com permissão de uma casa, uma cidade, um estado...
Fugi dos meus e dos que nada me eram. Da morte, da vida, da sub-vida. Corri. Voei.
Como se algo fosse mudar dentro de mim eu mudei. Mudei de casa, de cidade, mudei de vida continuando a viver a mesma que é minha. Mudei as companhias e então percebi que há solidão que vai além daquela que cala em mim. Sobrevivo.

Parágrafo segundo de um sentimento em (des)evolução...
as noites tornaram-se cada vez mais tediosas dentro daqueles metros quadrados. Os filmes de cinqüenta já não bastavam. Num apelo moderno ela me veio, exatas vinte e quatro horas depois do dia de. Enviou-me uma exposição do ser destemido. Pediu com tom de imposição.
Cheirou-me a face, encostou. Não consegui somente ir sem olhar pra trás como tantas vezes fiz ao longo.
Voltei.
Estou.
Daqueles sorrisos dela em mim restou-me o desejo infinito. sinto que dentro do meu vazio mora um ponto que me faz suportar. Aquele sorriso.
Há em mim uma solidão sólida e consistente que nem ela tira, mas mora nela a minha certeza plena de que sou capaz de sentir amor, na minha mente perturbada e no meu estômago podre é que eu a sinto mais visceral. Com minhas vísceras fétidas eu a quero com a força que não me cabe e no meu repousar perturbado ela me trás paz.
A menina não sabe perceber e eu não a culpo. Me dói não saber mostrar.
Se ela soubesse que me cabem melhores os dias desde que ela surgiu. Sentindo então que só é suportável ser e estar porque ela causa em mim a vontade de estar viver só mais algumas horas para, quem sabe senti-la próxima. Observar uma vez mais o sorriso. Sentir o cheiro de banho tomado.
São nos dias com ela que congelo minha mente quando a domino, consigo continuar com algum gosto. É nela que sinto as melhores e as piores certezas.
É com ela que eu quero ser e estar. É ela o meu desejo de suportar.