terça-feira, 29 de julho de 2014

fiapo

'eu sei que ta tudo uma merda. Eu sei que você ta enfiada nesse quarto, fedida sem tomar banho e só se medicando pra dormir. Sei que você pensa naquela uma mais do que deveria e que levar um pé não é nada fácil. O ego grita e a alma sangra. Eu sei de tudo o que te dói e que ainda vai doer. Sei que ficar deitado na merda as vezes é mais fácil e cômodo pois não implica em atitude, esforço. Mas eu acredito em você. Na sua força. Eu tenho fé em você. Então... Levanta. Vai até lá fora e respira. E quando der, volta. Volta pro mundo. Volta pra mim. Que quem gosta de ti ta aqui fora esperando por você.'

domingo, 20 de julho de 2014

cici

Me sorriu de leve enquanto ouvia um murmúrio quase surdo.
Senti aquela paz imaculada vindo de encontro a mim. Cheirava a roupa nova, entre folhas de um livro não lido. Não possuía passado, não tinha peso no seu semblante. Era leve, doce e pura. Senti a felicidade de tê-la nos braços e receber aquela paz.
Menina Cecília completara dois meses. Tão poucos são os seus dias na terra, tão poderosa ela é. O poder de emanar a paz. O colorido.
Dois meses nos meus braços só me trazendo o bom. Bem maior.
Vida que começa a seguir.
De todos aqueles, sem falar uma frase solta ela se fez presente. Ofuscou.
A mais pura personificação do amor. Verdade.
Menina cici, nossos dias são válidos desde que se fez presente.

vinte metros quadrados

Raridade é sentir a tranquilidade que excede.
Naquelas tardes que seguiram e ainda viriam ela só queria falar. Sem amarras. Falar é um ato corajoso que poucos exercem de fato.
Falou por uma hora e vinte minutos. As mãos estavam frias e ao longo do monólogo, seus pés não conseguiam parar de rodar no ar, tal qual estavam seus sentimentos, seu pensar.
Enfim a suavidade se chegou, aconchegou. Poderia viver naquele pequeno espaço por dias, quiçá meses. Meses buscando aquilo que é escasso, paz. Compreensão de si e do outro. Do entorno.
Poderia falar por horas. Poderia calar. Poderia.

Ficção


Senti revirar as vísceras a medida que ia me aproximando daquele quiosque. A vi de longe, um golpe atingiu meu rosto, ele queimava como a de quem acaba de receber um tapa e oferece a outra face.
Me sorriu e eu pensei '-riso frouxo a moça possui. Grito essa estranheza bagunçando sensações que estão dentro de mim?'
Me veio aquele abraço rápido e quisto. Aquela voz que de imediato ecoou susto nos meus tímpanos.
'-me ajude aqui', falou.
Em pensamento manifestei surpresa. 'ela pouco me conhece e fala como se fosse tão corriqueira essa cena, esse ato'
Achei aconchegante e invasivo. Invasivo não é ruim nesse caso, é intimidador.
Não que eu estivesse intimidada, só não sabia como não deixar transparecer tamanho interesse, contentamento, a vontade de ouvi-la por toda noite, como quem lê. Lia. Lerá. Não deixei.
Não podia.
A noite chegou fria. E minha coragem cadê? Estaria eu tão temerosa que a deixaria passar sem nem ao menos confessar?
Encontraram-me as suas frases. A dicção falhava vez ou outra, como um tropeço. Os movimentos tresloucados. Fala com o corpo a moça. Escreve com a alma, o coração, a garganta. Aquele nó. Meu embargo.
Um, dois, três cigarros... Não deveria destruir seus pulmões enquanto põe pra fora seu ser. Pensei.
As brincadeiras não me deixaram mais tranquila e pela primeira vez não soube agir ou reagir. Repeli.
Desconheci, não sou assim...
Sorriu vez ou outra e eu pude reparar as linhas de expressão que ainda não haviam brotado ao redor daqueles olhos. Seus lábios esbranquiçados, não sei se do clima, do cigarro ou da sua saúde que intimamente, escondendo-se aos olhos, precária. Não menos bonitos.
Já havia falado sobre o nariz, não pude deixar de reparar, casa bem com o desenho do rosto, bem feito como se esculpido a mão por aquele um. Fruto de um talento nato.
Os olhos sorriem em conjunto com os lábios. A menina sorri com os olhos. Costumava pensar que é o jeito mais bonito de sorrir.
trazia consigo no peito e no olhar uma perturbação triste. Uma necessidade de acolhimento. Me doeu enquanto encostada naquela palmeira.
Proteção.
Seu timbre grave me soava suave, quase não compreendia o que era dito, só conseguia apreciar suas notas. Tantas vezes a chacota da vez àquela voz, tantas vezes renegada. Mal sabe ela o poder que sua voz tem. Pode ecoar mundos. Levá-la ao topo mais alto. Revolucionar. Som.
Sua pele branca de menina que não toma sol riscada em cores vivas. Seus cabelos tão negros e cobiçados, cuidados por ela. Arrumava-os a cada minuto, talvez para disfarçar algum nervosismo, ou talvez por costume de menina-mulher vaidosa. A mão magra e pequenina entrava por entre os fios alinhando o que não necessitava ser alinhado.
As cores que a envolviam, o seu frescor de garota recém chegada. Deslumbrada. Sua maturidade evidente contrapondo com seu jeito adolescente. Talvez falasse pelos cotovelos por não saber ao certo o que falar. Talvez por querer falar a tanto tempo e não ter ouvidos dispostos. Quem é que sabe. A moça.
Gostei daquela calmaria travestida de caos.
Já gostava por n motivos, mas dali até chegar naquele bairro fresco e quase bucólico, minha mente não me deixou descansar. Algo mudou em mim. Senti como quem prefere estar perto a qualquer coisa sórdida ou imaculada. Como quem se enche de inspiração para textos mal escritos enquanto a observa falar, gesticular, e entre uma tragada e outra, quase encontrar meu olhar curioso.
...

Senti uma necessidade enorme de sair dali. O derredor me sufocou.
Me chegou quase num sussurro ao meu ouvido, -parece que ta com ciúmes'. Ignorei rasgando o verbo por dentro. Tomei o primeiro gole pra matar o suposto ciúme. Evaporou do copo. A guria do bar sorriu pra mim, não correspondi. Seu batom vermelho escândalo quase não me prendeu.
-Onde ela está? Fumando. Fuma demais essa moça, constatei.
Me veio o segundo copo. O copo da falta de vergonha. Da coragem. Da pista de dança. Do desespero velado, enfeitado de diversão típica.
A pista estava caótica. Meus ouvidos amortecidos. As luzes alegraram meus olhos que quiseram fechar. Vi aquela uma e pensei 'deve ser ciúme. Me fodi'
Quis achar a moça, olhei ao redor, dancei. Sorri. Ela não estava.
Quis dizer que talvez fosse ciúmes. Quis chamá-la para se retirar junto a mim. Sentar, estar e ser. Permanecer.
E quando o cansaço tomou minha mente velha encostando num pedaço de sofá meu corpo ainda jovem. Quando não pensei onde estaria e fingi não me importar, ela apareceu. Apareceu com aquele semblante preocupado e ambíguo. Vi confusão no seu rosto. Havia se maquiado, disse-me ela. Sentou-se. Acolheu em pequena distância meu cansaço. Respeitou meu sono e ofereceu aquela preocupação paciente e bem parafraseada.
Sorri.
Ah se a insanidade me tomasse e me fizesse pedir a ela que saísse dali comigo.
Fiquei. Ficamos ali por um tempo.
Minha cabeça insistia em girar, se recusando a. Uma batalha sangrenta e regada a álcool entre a razão e a emoção, a sanidade e a coragem tomou minha mente.
Um segundo de coragem insana pode mudar vidas.
Ela se virou para mim, senti sua respiração tocando meus olhos. Ela consegue ser mais alta que eu.
Não pude perceber mais nada. Seus lábios se movimentaram como quem dialoga interessado. Pouco ouvi.
Naquele segundo senti o silêncio da certeza me tomar.
Sim. Quero.
Eu a quis pra mim bem ali naquele caos, bem ali com aquela uma no rastro. Bem ali a luz ofuscou minhas dúvidas e me fez assumir para mim mesma que eu a queria única e exclusivamente no meu espaço. No meu perfume. Nos meus dias.
Teria eu, uma pessoa supostamente inteligente e bem resolvida, madura, se apaixonado bem ali?
A moça ainda está começando. A moça tem dona. E naquele um segundo constatando fatos, me mantive inerte diante dela. Como se estar tão perto não provocasse em mim a sensação mais visceral e latente. Como se os lábios não buscassem sem perceber o encontro com cuidado.
...
Era 5 da manhã e ela dormia. Dormia perto, dormia serena e em paz. Um beijo na testa pra mostrar que eu a respeito. Arrumei a coberta sobre ela, fazia frio.
Deixaria correr dias e virar noites ali com ela tão calma e acolhida. Não me incomodaria de preparar o chá dela logo pela manhã enquanto lendo em voz as notícias para mantermo-nos informadas do que está além daquele espaço entre nós. perguntar como passou a noite.
Desde que fosse ela.
...
Amanheci com o rosto dela tão próximo de mim, dos meus cabelos. Senti um riso abafado quando me ocorreu que meu cabelo poderia estar cheirando a cigarro e ressaca.
A garota mal chegou, nem chegou. Tão pouco se instalou e eu já me preocupando. Abafei outro riso irônico.
Agora não adianta mais. A noite passou, a oportunidade passou.
E eu ali parada a observar.

Plim
O elevador chegou. Ela foi.
Fique! meus olhos gritaram surdos.
Apenas fique.

é recíproco

Egoísmo é algo que nos afasta do outro de maneira lenta e gradativa. Não quero mais isso. Essas atitudes extremamente egoístas. Se é pra falar de erro e ser desculpado, você o fez e eu aceitei.

Encanto. Encantada. Apaixonada. Paixão. Tudo. Nada. Nada saber sabendo. Não suporta. Suportar. Não. Sim.

indo,

Sinto uma aperto no peito seguido de um embargo na voz quando você me vem a mente. Penso como não te amar. Não te ter saudade. Penso se é amor. O que é o amor?
Tenho sentido uma necessidade contínua de estar cada vez mais perto. Como lidar?
As vezes meus olhos derramam o que minha boca não ousa dizer. E a mente não quer sentir. Sinto-me fraca e inconstante numa demasia de causar dor. Vez ou outra só o que me sobra é uma vontade frágil e permanente de ir embora. Para onde eu tenha tudo e nada. Ficar. Nem chegar a ser. Ir, sobretudo, em frente

não mais

Enquanto observadora eu percebo que não faço parte. É bonita a juventude se aventurando em passos soltos e criativos. Os cabelos ao vento artificial esvoaçando uma beleza forjada, tão única e tão banal. De todas as cores. Belos.
Enquanto observava, constatava que fazer parte já não era almejado. Já não era importante. Ao final da noite, todos se distraem mergulhados naquela solidão burra que ninguém preenche.

Dia 23 de maio de 2014

O dia chegara a muito. A brisa ta presente e Fria. Manhãs frias me fazem retroceder para onde nunca estive. Ta cinza e cinza combina com retrocessos.

Falatório precário

Enquanto observava aquelas linhas retas de sentimentos e pensamentos tortos, tudo começava a fazer sentido dentro dela. Não se tratava de tristeza, não se tratava de ciúmes ou desses sentimentos meros que a adolescência toma conta. Era algo tão leve que já não poderia doer. Triturar seu pensar. Era tranquilidade quase imaculada que invadia sua mente. E ela ali, lendo todas aquelas linhas cobertas de desabafo que não incomoda, embora, pelo contrário, a atrai mesmo se distraindo aos poucos. É floral. Lento, gradativo, mas ao fim das gotinhas o resultado é garantido. Cada organismo responde de um jeito, mas no final, tudo é absorvido e digerido.
A normalidade está na onde reside a tranquilidade. Afinal, o que é estar, ser normal?
Naqueles momentos que se seguiram Lind podia sentir aquela normalidade distante de outrem. Mas uma normalidade tão tranquila naquilo que não tem jeito. O que não tem remédio, remediado está'' ouvira certa vez. Ecoou em seus tímpanos, e se alojou dentro de alguma terminação nervosa. Libertou-se.
A normalidade vestida com a tranquilidade de dar ao outro exatamente o que recebe e sentir-se nem mais nem menos, apenas igual. Quase beira a conformidade. Quase se assemelha a desistência. Mas é só tranquilidade que a idade reserva. Deixa correr o tempo. Um dia será. Tudo ou nada. Talvez que paira inconsciente nos cérebros escandalosos.
É a normalidade de querer pra si sem pedir, sem cobrar, sem ser o óbvio. Óbvio é a incapacidade de ver além. Guardaria numa caixa, zelaria com afinco, pensava ela enquanto observava aquelas linhas. A ansiedade do novo já havia cessado. O frisson já havia acabado.
Restara nela a certeza positiva do 'real, agora'
Quando perguntada se sentirá vontade de ser tal qual, ela respondeu de pronto 'ser não,-ter' tão somente tê-la.
É claro que a tranquilidade estável de uma mente importante assusta. A 'normalidade estável' assusta quando faz presença no lugar da normalidade para com, com o outro. Mas menina, pensava Lind, não seja egoísta. Na minha tranquilidade eu consigo observar sua vontade de 'ter' distante de 'ser'
Normalidade indiferente é a mais avessa. Aversa. Talvez essa se aproxime rasteira, tal qual o sentir se encaminha para longe. Talvez a certeza do seu papel faça dela uma fiel ouvinte, leitora, quiçá narradora dessas comédias românticas. Dessas histórias de amores não superados, dor de cotovelo e saudade. O trágico cômico romantismo. E só talvez ela só queira isso, observar distinta daquele meio, degustando a tranquilidade de não se afetar. Estar.
Então as linhas não chegaram mais. Se aquietou. Ocupou. Deixou. Se foi. Quem é que sabe?
E o gosto da tranquilidade veio úmida como dia de inverno misturando-se ao amargor da certeza.
chegara a aquela conclusão macilenta de que querer para si vai além das banalidades tão pulsantes naquele ser. Já não cabia desespero. 'remói a solidão, remói. Quando não te bastar mais, cospe e bebe do meu ser'
A tranquilidade de querer o bem estar do outro antes de querer ter para si.
Mas nos minutos distante ela sabia a imagem que sua mente buscaria. Encontraria.
Porque normal mesmo, sentia ela, é o que ela quisesse que fosse. E no caos alheio, ser a paz de quem quer dar amor e precisa receber.

naquela noite de sábado

Enquanto os minutos corriam desesperados eu pude sentir o quanto você ainda me doía. Todo aquele seu desespero com causa me rasgando a garganta e escorrendo pelo rosto naquela noite insone e silenciosa. Tantas desculpas e muito para ser desculpado. Tanta vontade avessa. A hora sempre está errada pra você. Você sempre chega quando não deve, se instala onde eu não posso despeja-la e me escraviza os pensamentos por dias, anos.
Essa insana normalidade do sentimento confuso..

terça-feira, 1 de julho de 2014

Love in the afternoon

A manhã foi corrida, quase não pude pensar, mente e corpo programados, condicionados, o piloto automático ligado dominando sem ser percebido. O almoço chegou cheio, falante. As vozes ofuscaram meus pensamentos, desviaram-se todos. Ecoando um zumbido perturbador nos meu tímpanos tão livres. Congestionamento. Então com calma a tarde veio lenta, trazendo um todo não sentido. Enquanto lavava aquela pilha de pratos cheios do indesejado eu senti como um sopro na espinha. Uma picada quase imperceptível do mosquito que aos poucos te suga. Me suga. Mais adiante vem o incômodo. Coceira e em casos mais extremos, alergia permanente. Eu fui sentindo a saudade sua. Me veio trazendo a tona um sentir. Pequenez. Os olhos vidrados na sujeira por toda parte. Ouvidos identificavam 'admirável gado novo' rodando no play, entrando e saindo dos cômodos vazios. Meu pensamento se encontrou. Te encontrou. Chorei. Não por fora. Escorria algo quente e amargo dentro de mim. Como gozo desprezado. Vez ou outra é só o que consigo sentir, a dor, o amargo. O quente da saudade e da tristeza que sua falta causa. Nada me chegou. Nada me comoveu, só a frieza das suas mãos jás lânguidas acusando a falta de vida. Sua vida. A falta. Falta.
Exercendo a coragem covarde de simplesmente afasta-se de tudo e todos.