sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

areiasuja


No chuveiro – quase sempre – eu choro. E choro quase sempre por ter tido a alegria roubada de mim. Não me recordo ao certo e na verdade não sei se verdadeiramente aconteceu. Mas sinto como se tivesse a alegria roubada. Feito febre, a tristeza se alastrou pelas fendas e porosidades da pele.
Sinto dores entorno de meu peito desde então. Provo das mágoas diárias e das desilusões de um adulto infanto-juvenil. E eu que tenho tanta vontade de sorrir, tanta vontade de ir embora. Para que não me protejam, para que não zelem nem rezem por mim.

Notei logo pela manhã o quanto estou definhando. Meus dentes após baterem na xícara de café se esfarelam pouco-a-pouco. Já não tem gosto. Já não tem desgosto. Tudo dói e eu já nem sei o que fazer, nem a que lugares frequentar. Meu querer chega a doer. Mas na verdade dane-se; eu sei que sou ao avesso.

De pouco em pouco, dentes e cabelos. Alegria e um pouco de mim. Tudo areia – Tudo!. No mar de mim sem ondas, lua ou luar. Areia, apenas pequenos grãos ásperos de areia suja. Sujo. Sujo e é assim que sou. Vezenquando no banho sai, com lágrimas – Você sabe como é – Eu sei também.

Evito olhar em meus olhos quando choro. De alegria roubada. Sem alma lavada. Eu choro. Sou de uma quase pré disposição genética sozinho. Por favor evite. Evite olhar-me nos olhos quando estou triste ou em drama. Pois quando choro sinto-me de certa forma contente. De banho tomado. Sinto-me as feridas de Jó e elas já nem doem mais.

E com todos os defeitos, do menor ao mais insuportável. Das manias da manhã aos ataques esquizofrênicos das madrugadas. Às vezes eu sou bom. Às vezes eu sou até feliz. Às vezes não tomarei banho no chuveiro. Banhei-me de lágrimas. Estou de alma lavada.