sábado, 15 de agosto de 2015


Querido Caio...
os dias tem sido de calor e as noites de frio por aqui. Confesso que nunca gostei de nenhuma instabilidade que se passasse dentro e fora de mim, embora eu saiba que a de dentro não me faz ter que carregar casaco numa bolsa que eu não gosto de usar quando saio pra trabalhar.
Recentemente li uma história que mexeu comigo. Se tratava de uma menina de vinte e seis anos que se deparou com todas as incertezas e medos que a muito ela tentava ignorar.
Penso que quando uma pessoa invade a privacidade de outra ela entra num labirinto de possibilidades. E essa garota o fez. Invadiu. Leu então que sua amiga próxima dizia dela para outros, leu as opiniões deturpadas da amiga com relação a família da invasora. Naquele texto confesso de inverdades a amiga dizia que a moçoila era uma suicida. Disse também que ameaçará se matar na cidade onde o pai morreu. E num ato falho errou a cidade em que o pai da moçoila morreu. Pensou ela '-prova maior de falta de atenção, não há'
Então a amiga seguia falando sobre penar, pagamentos que ela supostamente havia feito para a invasora, citava tantos exageros e inverdades que a moçoila invasora não pode suportar. Passou a ser a 'louca parasita' da história. A vilã que com afinco esforçou-se para enlouquecer a amiga. No fim de tudo houve uma falta de ar cortada pelo estopim da porta da sala de estar rompendo os gritos na cabeça da moçoila.
Ainda mais tarde li que a menina decidirá ir embora. Sumiu. Talvez tenha ido se matar em Minas Gerais, quem é que sabe não é mesmo Caio.
Talvez tenha corrido pra tão longe que nunca mais conseguiu forças para voltar. Ou foi viajar. Foi a praia e deixou escorrer no mar aquilo que não é bom.
Percebi então querido amigo que não adianta a gente tentar ser honesto com o outro. Não adianta a gente esperar reciprocidade, porque algumas pessoas simplesmente são incapazes de reconhecer. Incapazes de serem sinceros até com relação a elas mesmas, imagina com relação ao outro. E ser 'ser humano' não é justificativa pra quase nada, mas justifica muita coisa. De resto... A noite caiu, estou com um pouco de frio agora, eu emagreci alguns kg e sinto falta das nossas tardes na sacada.
Com carinho, eu.
Foi aos vinte e um anos que me deparei com um diagnóstico fechado por três psiquiatras de que era/sou eu uma pessoa com transtorno limítrofe. Tardei a acreditar. Tardei ainda mais a levar a sério e seguir tratamentos com afinco. Fui até o mais fundo de mim e voltei. Fiquei a beira de, tantas vezes que perdi a soma. Não que o problema fosse de fato aceitar uma 'doença',não. Eu sempre lidei bem com isso de aceitar. Mas me cansava aquela história longa de que eu teria de levar uma vida assim ou assado. De que teria de ter intervenção medicamentosa daquele presente momento até o dia em que fosse parar a sete palmos da superfície de um terreno qualquer. Me cansei inúmeras vezes de ter que lembrar dos horários dos remédios, das idas ao psicólogo falar para ele coisas que as vezes nem me chegavam. Um silêncio a dois. Passei por todas as fazer que podia e principalmente que não podia. Tive recaídas brutais, mas não me instalei no drama, como dizia aquele moço. Fui até o fundo e ressurgi sendo um novo velho ser com um transtorno. Foi então que percebi cinco anos depois que embora eu ainda seja taxada de louca pelo preconceito ignorante dos que se julgam espertos, suicida pelos completos desinformados, que eu não preciso aceitar esses adjetivos sujos de tragédia e dor. Você passa uma vida mascarando seus sentimentos e sensações e quando não consegue se enquadrar, é taxado. Eu diria que ser border me da uma outra visão de mundo sim, mas que eu prefiro enxergar entre linhas do que me perder naquilo que nem sei quem sou. Tomo remédio todos os dias pela manhã e se não o faço por quatro ou mais dias, começo a sentir o caos que é não controlar minhas emoções. Tenho um psiquiatra incrível. Ainda prefiro evitar muitas pessoas e aprendi a não sucumbir a exageros. Sou dada a exageros. Então eu só posso dizer que de 'médico e ''louco''' todo mundo tem um pouco. E eu, eu sou só mais uma na multidão seguindo pra onde eu bem entender.