terça-feira, 10 de março de 2015

página de número 25

Parágrafo primeiro da inquietação quase muda do ser...
Diante daqueles dias de chuva ela via sua vida correndo ligeira para longe, sempre e mais. Com pesar ela pensava no que teria que fazer para que algo que parecia impossível se dissipasse em tudo e ao mesmo tempo em nada. Não havia compreensão, nada além de uma completa solidão a dois, cheia de animosidade e impaciência. Doía nela todo aquele ser sendo e estando, sabendo ela que não era para ser. Certas coisas simplesmente não são pra ser, aceitar e compreender isso faz parte de um processo árduo e macilento de conhecimento de si e do outro.
talvez seja tanta dor ou choque ou algo que ainda não foi nomeado. Não sei o que pensar, sentir. Talvez eu não sinta nada. Talvez haja um muro dentro de mim que bloqueia até minha capacidade tão quista de pensar. O que são os dias quando há só escuridão dentro te cegando para além de você. Caminho no escuro de mim e não sei onde encontro a lâmpada mais próxima. Meu corpo desperta dolorido todas as manhãs, aquele nó na garganta não se desfaz tal qual uma drágea entalada na goela, enquanto o tempo passa ela desce e vai me rasgando a garganta. Incomoda, machuca e não há como se acostumar com ela, tomo água, me alimento quando dá mas nada tira de mim esse nó. Ele não volta quando forço sair de mim o que fiz entrar, ele não vai de vez quando como um faminto, me alimento de sentimento e sensações, sejam elas embutidas ou não. Me ocorre o oco do ser todos dias e não há o que preencha. Fiz dos meus dias os mais fugazes possível. Fiz da minha existência a mais invisível possível na tentativa tola de me esquecer enquanto sou diariamente esquecida. Fugi com permissão de uma casa, uma cidade, um estado...
Fugi dos meus e dos que nada me eram. Da morte, da vida, da sub-vida. Corri. Voei.
Como se algo fosse mudar dentro de mim eu mudei. Mudei de casa, de cidade, mudei de vida continuando a viver a mesma que é minha. Mudei as companhias e então percebi que há solidão que vai além daquela que cala em mim. Sobrevivo.

Parágrafo segundo de um sentimento em (des)evolução...
as noites tornaram-se cada vez mais tediosas dentro daqueles metros quadrados. Os filmes de cinqüenta já não bastavam. Num apelo moderno ela me veio, exatas vinte e quatro horas depois do dia de. Enviou-me uma exposição do ser destemido. Pediu com tom de imposição.
Cheirou-me a face, encostou. Não consegui somente ir sem olhar pra trás como tantas vezes fiz ao longo.
Voltei.
Estou.
Daqueles sorrisos dela em mim restou-me o desejo infinito. sinto que dentro do meu vazio mora um ponto que me faz suportar. Aquele sorriso.
Há em mim uma solidão sólida e consistente que nem ela tira, mas mora nela a minha certeza plena de que sou capaz de sentir amor, na minha mente perturbada e no meu estômago podre é que eu a sinto mais visceral. Com minhas vísceras fétidas eu a quero com a força que não me cabe e no meu repousar perturbado ela me trás paz.
A menina não sabe perceber e eu não a culpo. Me dói não saber mostrar.
Se ela soubesse que me cabem melhores os dias desde que ela surgiu. Sentindo então que só é suportável ser e estar porque ela causa em mim a vontade de estar viver só mais algumas horas para, quem sabe senti-la próxima. Observar uma vez mais o sorriso. Sentir o cheiro de banho tomado.
São nos dias com ela que congelo minha mente quando a domino, consigo continuar com algum gosto. É nela que sinto as melhores e as piores certezas.
É com ela que eu quero ser e estar. É ela o meu desejo de suportar.