domingo, 19 de julho de 2015

em memória


Penso que diante da morte a voz se cala e o corpo fala por si derramando a salubridade ou camuflando tudo o que a mente insiste em dizer.
Estaria mentindo se soubesse qual a sua idade, se vê-la finalmente descansar me soa tristeza profunda e imediata. Embora seja minha vó, tenho pra mim que agora ela está melhor, haja vista que uma mãe que perde o seu filho morre em vida e perece na existência do ser. Não quero com isso compartilhar a minha dor ou amor, sei que ela sabia do amor por conta das minhas atitudes e sei que nesse momento não há mais dor ou um existir vago. Ontem foi meu pai, aos quarenta anos no auge da sua vida e intelecto intacto. Foi deixando um rastro de dor que jamais ousei parafrasear pelo simples fato de não haver palavras que se aproximem do sentimento que fixou em mim. Ontem minha vó juntou-se a seu filho caçula para enfim ama-lo de perto. Seja na imensidão do nada ou nos arredores do ''paraíso''
Em memória.

São vinte três horas e cinqüenta e cinco minutos. Me ocorre e corre por mim a falta que a morte traz em vida, a dor que vem nos momentos mais inoportunos como se não tivesse respeito, sei lá quem, pelo nosso momento atual, sem perceber que tudo pode piorar dentro e fora. É quase meia noite e nesse momento morre a vida de alguns e renasce n'outros a dor da saudade que não vai cessar. Agora na chegada de outro dia ainda na escuridão me ocorre também a dor dela. Encontram-se quem sabe os três em algum canto da morte Sentados conversando no refrigério de suas almas enquanto nós aqui lamentamos sentadas no amargor salgado da nossa tristeza.
Eu não sei como demonstrar empatia. É um dos males da humanidade, Mas eu sei da dor que dói em você. Eu sei do amargo na sua alma. Do cheiro doloroso que exala dos seus poros. Eu sei da ferida visível no invisível do seu ser que não cura com merthiolate. Deixamos ir fragmentos de nossas almas, mas resta em você todas aquelas outras coisas que te fazem alguém grande e forte. Alguém que eu e eles amamos.