quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

uma taça de vinho



Era começo do verão, os corpos em movimento na praça de comemorações. almas que se encontravam em desencontros sem se perceberem. Chamou atenção sem o mínimo de esforço.
Ela tem a estrutura dos contos de Caio, é forte e exala mistério. Tem graça sem ser engraçada.
-'brava' a moça na sua voz forte de decisão fácil. O ímpeto reside na expressão sisuda para espantar o que não é bem vindo. Os olhos de noite, da cor das paredes do centro histórico, dos bares, das casas enfim. Tem riso frouxo mas não fácil, contraste da seriedade crua. Quando sorri  entre lábios não sei dizer até que ponto é possível não quere-los meus.. Tem a inteligência ligeira e sarcástica de quem não faz esforço algum, apenas é. Seu tom é 'in Dó', boêmio, gera um blues, tem peso e quando se gosta daquele som, nenhum outro faz sentido. Enquanto acaricia seu ventre em distração sem se perceber, me perco no seu umbigo jurando ser ali o centro do mundo.
Cruza os pés em descanso com descaso ao derredor, tem os movimentos de dançarino
que conquista no seu passo sem pedir licença. De ritmo lento, quem se importa com a pressa diante dela. É mulher rebelde que assume o descompromisso dos cabelos curtos e despenteados, não se importa com o imaculado. Nas mãos nuas um anel sem compromisso adorna os dedos finos. Ela não está interessada. Exala arte, é arte. Cheira a livros com cigarro num começo de noite qualquer. No vidro dos olhos películas passam tal qual negativos, registros de vidas. É leve feito papel com a densidade e intensidade de Leminski. Não querer é quase uma heresia, tê-la é melhor que chope de café em pleno janeiro.