quarta-feira, 9 de setembro de 2009

"Primeiro você cai num poço. Mas não é ruim cair num poço assim de repente? No começo é. Mas você logo começa a curtir as pedras do poço. O limo do poço. A umidade do poço. A água do poço. A terra do poço. O cheiro do poço. O poço do poço. Mas não é ruim a gente ir entrando nos poços dos poços sem fim? A gente não sente medo? A gente sente um pouco de medo mas não dói. A gente não morre? A gente morre um pouco em cada poço. E não dói? Morrer não dói. Morrer é entrar noutra. E depois: no fundo do poço do poço do poço do poço você vai descobrir quê. "
[c.f.a]

"Deixar apodrecer a vida..."


Enquanto sentada em sua cadeira, pode perceber como é doído o corto ja supostamente cicatrizado. Cansada de um dia exaustivo, pensou que conseguiria enfim, descansar. Sem pensar que a perturbação está dentro de si mesma. O descaso machuca, mas não é o fim do mundo, quando se recebe em grandes proporções e frequentemente. Dói mais, quando se recebe daquele que não esperará jamais receber. Mas,alí, sentada naquela cadeira, percebeu que era assim mesmo, hora ou outra, a gente percebe que não é bem aquilo que pensamos que fosse. O tempo caminha lento na imensidão do meu vazio, e sentada alí naquela cadeira, pude perceber que o tempo é muito, quando se espera algo. O melhor é não esperar, não esperar telefonemas aos fins de semana, nem o chamado de alguém, não esperar que seja sempre lindo e perfeito, ou que no fim, tudo dará certo. Pode parecer triste, mas quem espera, corre o risco de não ver chegar, e aí que mora o perigo. Quando acontece, a ferida se abre, ou sai outra, para terminar de multilar aquilo que ja á só pedaços. Frustação, medo, insatisfação. Um misto de sentimentos que consomem, quase impossível expor, tamanha dor, tamanha intensidade.
Como quem não espera e não quer, mais nada da vida, permaneci sentada naquela cadeira, por horas, lendo e pensando "e agora, josé?" Sinto a minha capacidade de discernimento, comprometida. Já não sei compreender muitas coisas, e a grande parte, bóia no vazio da minha cabeça. Permaneço sentada na cadeira, pensando muito, entendendo pouco, compreendendo algo mais. As lácrimas ainda não secaram, não sei porque, eu tento esgotar a fonte, todos os dias, mas elas insistem em minar novamente.
Os medicamentos não estão mais ajudando, noites e mais noites de sono perdido, sentada na cadeira, olhando o nada, pensando em tudo, sentindo praticamente nada.

"Que seja doce."


“(...) e escapo brusco para que percebas que mal suporto a tua presença, veneno veneno, às vezes digo coisas ácidas e de alguma forma quero te fazer compreender que não é assim, que tenho um medo cada vez maior do que vou sentindo em todos esses meses, e não se soluciona, mas volto e volto sempre, então me invades outra vez com o mesmo jogo e embora supondo conhecer as regras, me deixo tomar inteiro por tuas estranhas liturgias, a compactuar com teus medos que não decifro, a aceitá-los como um cão faminto aceita um osso descarnado, essas migalhas que me vais jogando entre as palavras e os pratos vazios, torno sempre a voltar(...)” [c.f.a]