domingo, 6 de dezembro de 2009

Me rasga com o fio das suas palavras, me mastiga macilenta, saborosa e pré-cozida, na boca suja da sua indiferênça, me engole ligeira, me digere lentamente no quente, aconchegante do seu estômago e me elimina fácil, pelo seu modo afável de desprezar.
E assim, prossiga me consumindo outra e outra vez, fazendo de mim, a salvação da sua fome de vida.

Um ano, onze meses e vinte seis dias.

Foi esse o tempo que durou. Levando em consideração que as coisas na minha vida são deveras efêmeras, eu não deveria me espantar com esse termino, já que esse tempo não me parece tão pouco assim.
Acendo um incenso com fragância de Lírio, para me trazer paz, tranquilidade, felicidade. Lírios são as flores preferidas dela. Enquanto esse cheiro adentra as minhas narinas e é absorvido pela minha pele porosa, eu consigo lembrar de mais e mais cenas, dentro delas, muito choro, mas, muito mais alegria, risos. Num piscar de olhos mais prolongado, me pergunto: - será que eu fiz algo errado? Milhares de respostas me vem de imediato e, em nenhuma delas me encontro, nenhuma delas me responde. Durante toda a nossa extensão de dias , semenas, meses e anos, natural mesmo é pessoas se encontrarem e como num passe de mágica, se perderem, mas.. há aquelas que, nunca mais se perdem, independente do tempo que passaram junto a nós e, você é uma dessas. Embora não aja mais conversas, risos, lácrimas talvez, há ainda muitas lembranças, muita presença aqui dentro, muita preocupação, um importar único. Lamento a importância absurda que eu dei, os "não se vá" que eu falei, as desculpas que desculpei, só para ter perto, para que no fim eu não fosse simplesmente esquecida, mais uma que passou pela sua vida. Me irrito com o fato de me ver tão irritada por perceber que, se não fosse por mim, não seria possível nem um ano e alguns meses. Me chateio visualizando o tanto que fiz questão, que briguei, numa tentativa inútil e desesperada, de te fazer enxergar certas coisas e de ter a sua atenção, mesmo que por meios maus e, finalmente me lamento e me entristeço, por constatar que tudo o que sinto e penso hoje, não são frutos da minha imaginação pouco fértil ou de um pré-julgamento, uma conclusão precipitada,mas sim verdades e fatos tão explicitos desde o segundo momento. O ruim não é ter sido simplesmente "deixada de lado" , mas sim, enxergar o quão insistente e doadora eu fui, perceber que foi tudo em vão e no fim, repetir internamente, sem medo "eu faria tudo outra vez." Em momentos de revolta, eu choro, me irrito, ou simplesmente não esboço sentimento, pensamento, indignação ou lamento algum. Me contento, porque hoje, eu já não mais me irrito e choro, eu simplesmente escrevo.