sábado, 7 de novembro de 2009

É tão difícil, as vezes.


Troco a música da play list, enquanto ela falava sobre ser feliz e como as pessoas são preconceituosas.
Creio que ela tentou mais uma vez, arrancar de mim uma confissão, tentou me deixar o recado "se essa for sua opção, assuma e seja feliz"
enquanto dizia que só se importava com a minha felicidade e que ela aceitaria e passaria por cima de tudo, desde que eu fosse capaz de sorrir, eu segurei as lácrimas e engoli qualquer palavra que pudesse passar de um "aham, concordo"
Começa a tocar "samson" e eu senti um rio que brotava dentro de mim vir a tona, querendo sair pelos meus olhos já cansados depois de uma noite toda sem dormir. Então ela falou e eu no meu imaginário só conseguia pensar no ponto em que ela realmente queria chegar, o que estaria ela tentando me passar, me dizer indiretamente. Eu sei que falar diretamente não é o forte dela, ela não consegue, talvez por medo, talvez porque indiretamente, rodeando a borda das palavras, doa menos.
De imadiato senti uma faca cruzar a linha da minha epiderme, derme ,chegando enfim, na carne crua e me rasgando por dentro, me sangrando. Senti um frio repentino e uma vontade de fugir. Senti vergonha de mim, senti nojo por tudo que já a fiz passar e mais uma vez, sem conseguir evitar a fazer passar de novo. Gostaria de dizer a ela que a minha "infelicidade" não é causada por conta de uma sexualidade não assumida diretamente, ou só por isso. Queria ter coragem e espaço pra dizer que, é mais, muito mais, vai além. Expor que me dói e só dói e vezenquando, no auge dessa dor eu a deixo transbordar e agrido, agrido por não saber lidar com a minha dor e por não saber dizer que simplesmente está doento e que não consigo falar, só sentir. Agredi quando um dos poucos e bons que ainda se fazem presentes aqui, veio me perguntar o que havia. A pergunta que entrou pelos meus ouvidos fazendo minha cabeça doer. E eu nem sequer consegui ser sincera com ela, pelo contrario, fui rude, como de costume.
Gostaria de dizer pra ela tudo o que está aqui a mais ou menos vinte anos e que eu nunca, jamais tive coragem nem de ter vontade de dizer. Me vi muda, como é sempre de costume. Não consegui, mais uma vez, eu não consegui, não foi dessa vez e não espero a próxima.
Ouvi os passos da minha vó, vindo de encontro aos meus, e senti o abraço dela, assim, quase que tão repentino e inesperado que mais um pouco, eu teria me assustado. Então aquela face alva me olhou serena, e num sorriso doce, disse que me amava e queria o meu melhor, falou de amor, e disse que sem um amor, a gente não consegue ser feliz. Pediu que eu vivesse mais e que sorrisse. Pediu perdão por ter me batido quando era pequena, e por eu ter sido a única, pra quem ela levantou a mão.
Aaaah, como pode ser tão doce, essa senhora? Mal sabe ela que eu me lembrava sim, dos tapas que levei, mas agradecida. Mal sabe ela que, não é falta de amor que me faz ser/parecer "triste" mas é falta de algo que não sei, é excesso de muito que não gostaria, é esse vazio que não sai, essa eterna busca por um lembrete e não encontrar nada, tirar o telefone do gancho pra ver se ele não está desligado. Esse estar só, que não muda, nem no meio dos poucos e bons, que me rodeiam. Mas, se não fosse esses poucos e bons, eu não teria momentos de esquecimento, esquecer de pensar naquilo que inesiste para muitos, mas que é realidade pura aqui dentro.
E termina a música, eu termino o meu escrito. Mas o peso, a dor, o vazio, a solidão? Esses não me deixam, são os meus mais fiéis e presentes companheiros. Que assim seja.

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