quinta-feira, 26 de março de 2009

Fragmentos de perda.


É tão ruim, amargo e doloroso o sentimento de perda, perder. Eu tenho sentido e perdido desde que eu nasci, e a partir do momento que passei a me dar conta disso, não há picadeiro que me encante, nem pahaço que me alegre. Você nasce e perde o conforto do ultero de sua mãe, lhe roubado o escuro que tanto te agrada, tanto que quando aquela luz invado o ser, nem os olhos consegui abrir. Demorei, demoramos dias... Logo mais tarde me foi roubada a visão lúdica e utópica do mundo, onde todos "eram" bons, amigos e o bem comum estava acima de tudo. Me foi roubado o silencio, quando os gritos invadiram os cômodos de minha casa, logo em seguida os meus ouvidos e eles, os gritos, permaneceram dias e dias na minha mente, sem me deixar dormir. Perdi o silêncio. Logo em seguida me tiraram a liberdade, aquela que eu pensei que tinha, porque na verdade eu não tinha nada, e andar na escadaria do prédio, brincando já não era mais permitido, assim como falar "certas coisas" ou coisas "erradas", assim como expor, querer, insistir, ou rabiscar as paredes, bem naquela fase que a criança descobre as cores e passa a se sentir um verdadeiro artista, pintando tudo o que ve pela frente. Perdi minha liberdade. Mais tarde foi a minha inoscência, aaaah, essa foi a pior, quando algo te fere não só psicologicamente mas também fisicamente, você passa a ver tudo em tom cinza, e a graça de tudo se reduziu a metade. De todas as lágrimas derramadas, as dores sentidas, nada nem de longe chegou a ser tão doido e brutal, nada me fez sentir tanto. Sentir nojo, raiva, asco de mim mesma, culpa, vontade de morrer, de matar.Eu perdi o brilho dos olhos. Grando os grandes acham que podem te tirar além de liberdade, silêncio, alegria e palavras, você se sente oprimido, triste, um pó, grão de areia. Eu perdi a minha inocência e credo nas pessoas. Mais tarde eu perdi oportunidades, perdi olhares, perdi verdades... Fiquei só com o sentimento amargo, com os pensamentos em constante fervilhar e as palavras guardadas numa caixa que só eu tinha o poder de abrí-la.
Eu perdi a minha essência,não, eu não perdi minha essência e depois recuperei, eu simplesmente descobri que eu possuia uma. Todos possuem. Perdi o certo contentamento, aquilo que eu não sei o que é, mas que deixava eu pensar que era "completa" talvez essa tal coisa seja a cegueira intima. Quando fechamos os olhos para olhar pra dentro de nós mesmo, pra não vir a enxergar, descobrir o que é desagradável. Eu perdi, eu perdi, eu perdi... o colorido, a alegria de estar vivo, amor, fala, silêncio, paz... Perdi minha paz quando eu percebi o quão horrível algumas pessoas, acontecimentos e afins, podem ser.
E hoje, depois de uma grande história de perdas e mais perdas, com recuperação quase nula. Eu percebo que perdi não só um, mas vários alguéns, e esses ainda me doem. Doe muito nos dias de inverno.

Não deixar nunca que tirem algo de nós, ou por nós mesmos. Não fazer com que queiram se perder, porque é fato que todos eram, magoam e ninguém é perfeito, mas pode se evitar muitas coisas.

"- Percebi que você não tem saído muito.
- Eu realmente não tenho saído nada.
- E por que?
- Porque eu perdi a vontade de viver, fico só com o existir.
- Isso te mostra o que?
- Mostra que eu discorro.
- É?
- É."

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