sábado, 9 de maio de 2015

baixio

'A luz era amarela, tinha gosto de intimidade. 
De pés descalços caminhou até o centro daquele cenário que era, em suma, sua vida de amor e tragédia. Cumprimento e despedida. De amor e despedidas fazem-se as vivencias do ser, do seu ser, do nosso. De pés magros e bem delineados caminhou no palco de mim . Trazia na voz o desassossego da vida e o conforto da identificação. Apressei-me em passos falsos ao meu encontro. Sentado naquela cadeira de ferro e fogo ensinou a mim e aos demais o que é amor e amar, paixão e apaixonar-se. Sofri do abandono dos que me identificavam, sofri da lembrança jaz perdida numa memória de caos e fármacos. De mão magra e dedos longínquos fez o café e toucou-me a alma fragilizada numa história que era por coincidência ou não, nossa.
Farfalhou em meus tímpanos aquela luta para sobreviver. Sub viver. Tocou meus olhos com suas palavras e num rompante de emoção encontrei nos dele a beleza do ‘marejar ’ inundou m’alma de emoções contidas, nossas almas. Escorreu pelo meu corpo lembranças de já não ser e estar, dos que já não são e nunca mais estarão. Afundei-me enfim, largada, frouxa, flácida mas não flutuante, no interior de mim e me afoguei naquela melodia que me fora presenteada enquanto jovem e inconsequente me drogava nos sarais da vida, aquele do zé, na esquina daquela casa que era quase minha.
Novamente aqueles pés, eu que já tinha em mim a certeza de que só as mãos são merecedoras de olhares, fixei-me nos pés descalços que caminharam a vida, as vidas, a minha vida. Do Oiapoque Ao Chui.
Andamos, compartilhamos, nos afastamos e nos ferimos. Amei sem conta e deixei escorrer por entre os lábios as palavras que mais tarde me tirariam da sua presença. Nossa presença .Das nossas descobertas. Me fiz muda diante de toda aquela história e não saberia dizer nesse momento o que era nosso, o que era meu e o que era tão somente dele. Daquele ser de faca e flor. Daquela grandeza diminuta nos seus 1.70 m. Escorri identificação naquela vida que sem muitas opções vivemos e com permissão dada por nós, escolhemos.
Então Volta, fica. E ainda que eu vá, te carrego nos olhos e na alma.

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